Na sexta-feira, 27 a Praça de São Pedro parecia completamente vazia, mas só parecia, porque lá estavam o Papa Francisco, o Crucifixo, o ícone de Maria e a Humanidade inteira, carregada nos ombros cansados de um ancião de 83 anos.
Hoje foi a nossa vez, 29 de março de 2020, a Matriz da Paróquia Santo Antônio de Pádua, em Batayporâ, silêncio em toda a Cidade, as ruas eram um verdadeiro deserto, a quarentena, principalmente agora, quando entramos em cheio nas estatísticas com dois casos confirmados, parecia ter decretado luto. Todos em casa, e muita gente aguardando o sinal da Rádio Cidade FM às oito horas, para que pudesse acompanhar a Santa Missa pelas ondas da nossa emissora e pelo facebook. Oito horas, entra o prefixo identificador, e cada cristão na Igreja Doméstica de sua Família se ajeita para acompanhar a Santa Missa. Aqui na Matriz, uma solidão sem tamanho invade o estacionamento e toma conta dos bancos, do presbitério e de todo nosso lindo templo.
Por um instante, a tristeza e a solidão angustiante tentam tomar conta de todo o ambiente, mas de repente olho para trás, como que numa alucinação, consigo ver o seu rosto, o sorriso de sua esposa, o jeito mais carrancudo do rosto de seu esposo, ouço o grito infantil e feliz de sua menina, a curiosidade do seu menino, que quer conhecer cada canto daquele imenso espaço sagrado, e dou-me conta, que nossa Igreja só parece vazia, mas ela não está, porque todas nossas irmãs e irmãos estão aqui, celebrando conosco.
Na oração da coleta me viro para a direita, para a esquerda e depois para o centro, e ouço um coro ensurdecedor das vozes de vocês, que se dirigem a Deus, e entre todas elas, identifico a sua voz, que embargada, pede a Deus pelo o grande amor da sua vida, elenca o nome de seus filhos um a um, recorda ao Pai, seus pais, seus avós e toda sua família; e mesmo no ensurdecedor silêncio, que se mistura com as suas preces, consigo ouvir uma voz e visualizar uns olhos banhados em lágrimas de uma saudade que jamais terá fim, e aí, pergunto por que, e o silêncio me diz: hoje ele/ela estão rezando pelo filho que partiu antes do tempo; aquele/a ali estão rezando pela sua mãe/pai, que não marcou hora, e se foi deixando um vazio, que jamais será preenchido, porque saudades de filhos e de pai e mãe, não tem prazo de validade, e se tiver, será sempre uma eternidade.
E quando o sacerdote, eleva o Corpo e Sangue de Cristo, aí minha certeza se confirma. Em cada molécula daquele Pão, em cada gota daquele Sangue, estava o seu corpo por inteiro. Naquele Pão e naquele Sangue estava você, que preencheu todo o vazio, que parecia desolador. Ali estava a sua vida, a vida dos seus amores, naquele Pão e naquele Sangue, estavam seus desejos, seus sonhos e suas paixões; e ao comungar, percebi que você estava ali. Você pode até dizer-me: ele surtou, está esquizofrênico, mas a minha fé, e creio que a sua também dizem isso, o Corpo e Sangue de Cristo é o mesmo que dizer Igreja. Você é Igreja, sua Família é Igreja, por isso, que quando olhei para Matriz Santo Antônio aparentemente vazia, vi você e tudo o que você ama. Vi sua História e o que ela representa.
Eu não estou louco. Eu vi! Quando o Pe Everton elevou o Corpo e Sangue de Cristo, eu vi você. Você estava lá.
Quando fomos abençoados, eu vi ouvi, ela ressoou, e senti, que cada um de vocês, daquele lugar costumeiro, respondeu Graças a Deus.
Por favor, não diga que enlouqueci. Não enlouqueci, só experimentei o que sempre acreditei na teoria, mesmo quando você não vai, você está lá. E olha, enquanto esse momento de prova não passar, continue em casa, porque quem for na celebração, quando o Padre elevar o Corpo e Sangue de Cristo terá a mesma sensação que eu: VOCÊ VAI ESTAR SEMPRE LÁ!
Tive angústia e medo de um templo vazio, mas me deleitei, quando senti, que você no seu canto, silencioso ou barulhento, estava lá.
Nosso templo jamais será vazio, porque Você sempre vai estar lá.